Joseph Goldstein
THE NEW YORK TIMES
Assim como outros rapazes solteiros, John Durant tenta manter o apartamento impecável, caso venha a se casar um dia – o lugar é arrumado e ele nunca se esquece de molhar as plantas.
A única coisa que Durant teme que possa assustar uma futura pretendente é sua mais nova aquisição: um freezer onde ele armazena carne – muita carne.
Durant, 26 anos, que trabalha com propaganda, é parte de uma tribo de Nova York, cujos integrantes acreditam levar uma vida saudável retomando hábitos dos homens das cavernas.
Este estilo de vida inclui a ingestão de grande quantidade de carne seguido de períodos de até 36 horas em jejum – assim eles se igualariam aos nossos ancestrais, que ficavam dias sem comer entre os momentos de caça. Vegetais e frutas são permitidos, mas alimentos como o pão, que não existiam antes da invenção da agricultura, estão fora da dieta.
Afinal, para eles, o corpo humano evoluiu numa rotina de caça e coleta. No fundo, eles querem se desapegar de milênios de maus hábitos.
Na hora de fazer exercícios, a tribo opta por corridas de curta distância e saltos – imitando o que uma pessoa da pré-história faria para çacar um mastodonte, por exemplo.
O novo homem das cavernas despreza o conceito de vida saudável representado por restaurantes vegetarianos e academias de ioga. Há um forte componente de virilidade no estilo de vida desta tribo.
– Não quero fazer uma dieta da moda como minha irmã – conta Durant, que prepara jantares coletivos, com muita carne de caça, no seu apartamento.
Vários seguidores conheceram a proposta do estilo na internet, ao encontrar as chamadas dietas paleolíticas e os programas especiais de exercícios – seguidos por muita gente nos EUA e na Europa. Melissa McEwen, 23 anos, aderiu ao estilo após ler o blog do professor de economia aposentado, Arthur De Vany, 72 anos. De Vany propõe o que chama de educação física evolucionária.
Ele acredita que os homens primitivos desempenhavam proezas físicas que amedrontariam os ratos de academia do dias de hoje. O próprio De Vany é um exemplo deste vigor: aos 72 anos, é puro músculo.
Um guru deste modo de vida, Erwan Le Corre, francês considerado pela revista Men’s Health um dos homens mais bem preparados fisicamente no planeta, visitou Durant enquanto passava pela Big Apple em dezembro.
Os dois selaram a amizade com uma corrida sem camisa – e, no caso de Le Corre, sem calçados – atravessando a ponte do Brooklyn numa noite fria.
Le Corre, 38 anos, promove o que chama de “movimento natural” em workshops realizados EUA afora. Seus exercícios incluem corridas de quatro (pés e mãos no chão) ao redor de arbustos, saltos entre rochas, capturas de presas com pedras – atividades que ele acredita que os homens primitivos faziam: Há outros gurus. Loren Cordain, autora de Dieta Paleolítica, associa o movimento a um artigo de 1985 do Jornal de Medicina da Nova Inglaterra, que proclamava que a “dieta dos nossos ancestrais remotos pode ser um padrão de referência para uma nutrição moderna humana.” Outra fonte para os partidários do estilo é o CrossFit, programa de condicionamento conhecido por exercícios cansativos que combinam levantamento de peso e ginástica. Treinadores do CrossFit trabalham em mais de 1.200 academias nos EUA. Não é pouco. Vladimir Averbukh, um imigrante do Uzbequistão, gosta de praticar estes exercícios diferentes.
– Homens e mulheres de cerca 12 mil a 15 mil anos atrás eram consideravelmente mais fortes e estavam em melhor forma física – diz Clark Larsen, antropólogo da Universidade de Ohio.
Outra prática dos homens das cavernas envolve frequentes doações de sangue. A ideia é que, nos primórdios da humanidade, o ser humano se machucava muito e volta e meia perdia um pouco de sangue.
Muitos dos homens das cavernas que se reúnem na casa de Durant são esbeltos e bem musculosos, além disso têm uma pele de causar inveja a muitos. Ah, eles garantem que quase não ficam gripados.
Nova York pode parecer um ambiente desafiador para os aspirantes a homem das cavernas.
Vários profissionais, alheios ao nascer e ao pôr do sol, trabalham em frente a monitores de computador.
A cidade, como convém a uma metrópole, considera ilegal a caça e a coleta nos parques da cidade. Arrancar plantas, apanhar um ovo de um pássaro ou pegar esquilos em armadilhas no Central Park são maus comportamentos punidos por mais de 90 dias na prisão.
Porém, o consenso surpreendente dos paleontólogos é o de que a cidade é um paraíso para o novo (ou melhor, ancestral) estilo de vida.
– Nova York é uma das melhores cidades da América onde você pode caminhar – afirma Nassim Taleb, investidor que ganhou status de celebridade por suas teorias, descritas em O Cisne Negro, as quais revelam que os eventos extremos podem atrapalhar os mercados financeiros. – As pessoas tratam as caminhadas como um tipo de exercício, mas caminhar foi a forma pela qual os primatas se tornaram homens.
UM TAPA NA CARA DOS MANOS DE ACADEMIA QUE FICAM COMENDO BARRINHA DE PROTEÍNA A CADA 3 HORAS
VIADINHOS