Recentemente, um amigo me confidenciou: "Bróder, não sei o que está
rolando. Elas reclamavam antes quando a gente pegava o telefone e não
ligava. Agora, eu ando numa série invicta de mulheres para as quais eu
ligo no dia seguinte... e elas nem dão bola. Acabam me cozinhando em
banho-maria." Hoje, ele pensa centenas de vezes antes de ligar no dia
seguinte. Teme a rejeição, tadinho.
Por décadas, ligar para uma mulher no dia seguinte era a
certeza do triunfo. Ela estaria lá, ansiosa, após contar a noite
anterior com detalhes e esperanças para as amigas. Aguardando o
telefonema como quem crê na vinda do messias. E esbravejaria uma fúria
bíblica aos sete ventos caso você, o canalha, não ligasse.
Isso acabou, e me parece fruto de uma equação curiosa. A
mulher se igualou ao homem em vários comportamentos, como a
infidelidade e o coito casual. Também defendo, nas melhores mesas de
bar, a tese de que o pensamento consumista já se integrou à maneira com
que muitas pessoas raciocinam suas relações afetivas: querem mais e
melhor.
Não por acaso, cresce o número de amigas delas que sabem, em
tempo quase real, tudo que ocorreu entre vocês, inclusive as dimensões
envolvidas (é, meu caro, hoje mesmo você está nu diante de várias
mulheres).
Adicione a isso o fato de que o coito se tornou uma fonte de
bem-estar. Pululam estudos que comprovam os efeitos benéficos de uma
vida sexual ativa: pele sedosa, cabelos brilhantes, jovialidade.
Tornado serviço, o coito justifica uma nova comparação com a pizza:
importante é que esteja boa, quente e na hora certa, não importa quem
venha entregar - e não se espera que o entregador ligue no dia
seguinte, com voz aveludada, perguntando se o pepperoni estava gostoso.
Diante dessa quebra de "monopólios" masculinos, incerto de seu
papel em um mundo em que a mulher é cada vez mais independente do coito
oposto, o homem já tentou de tudo. Pegou dicas de moda com os gays;
acreditou no hidratante; virou metrossexual; além de lavar a louça,
aprendeu a cozinhar; depilou-se.
(Há casos de zagueiros de valor, do tipo que trata a grande
área com senso de missão, que furaram o futebol com os amigos para
apostar na hipótese do amor.) E agora, temos medo de ligar no dia
seguinte. De fato, elas conseguiram. Ao passar para o outro lado toda a
angústia do day-after, por meio de uma glacialidade quase viril, a
mulher deu o ultimíssimo passo em direção à igualdade sexual. Hoje, o
homem é a nova mulher, com o agravante de não encontrar em seus
armários um só sutiã para queimar.
Agora, o homem é
a nova mulher
Leiam, e se matem.