Bem-vindo Thomas. Nosso colega de fórum, no "quote" acima, aponta um fato interessante e relevante para o ponto, este sendo que todos possuem nossa individualidades. Infelizmente, reconhecendo a válidade de seu argumento, tenho que discordar. Penso que apenas uma pequena minoria de pessoas, afortunados ou não, possuem individualidade própria. A individualidade própria não é presente de nascimento, como imaginam muitos, trata-se sim de uma introspecção profunda e demorada que cada pessoa busca para entender o que lhes satisfaz como essência. Digo isto observando a sociedade como um todo e de forma una. Apenas à partir deste momento, observamos que 90% das pessoas não conseguem desenvolver esta individualidade por alguns motivos, estes sendo, primáriamente a distração midiática, secundáriamente a opinião pública, terciáriamente, e talvez a mais grave de todas, falta de interesse em si mesmo. Atribuo à esta terceira uma relação direta com a primeira. Vejo um grande interesse em impedir um crescimento de individualidade nos seres dado ao fato de que à partir do momento que algo se mistura com sua essência, este algo passa a ser parte da sua individualidade, e se existe uma única pessoa que nós não traímos, somos nós mesmos. Por exemplo, um cidadão acredita, após muita reflexão sobre certo tema, que uma abordagem policial é uma afronta do estado à sua pessoa e dignidade. Este cidadão, portanto, ao ser abordado por um policial, irá preferir ser preso ao informar o estado algo sobre sua vida. Trata-se, este exemplo, apenas de um caso infinitamente banal perto do que estou tentando expor, mas o importante é que a mensagem seja compreendida por todos. Voltando ao assunto, de que modo o estado controlaria pessoas individuais? Ele não controlaria. (Espero que estejam enxergando a relação com o "status quo". Explico melhor posteriormente).
Acho que você se confundiu, Thomas. A individualidade não incute que todos os indivíduos sejam pessoas completamente diferentes na forma de pensar. Isso, se pensar bem, é algo até mesmo matematicamente impossível, em termos de variações de pensamentos e raciocínios.
Nós somos uma espécie individual sim, mas acima de tudo somos uma espécie social. E isso nos torna influenciáveis pelo meio e por outras pessoas. Por mais esclarecido que você seja, por mais contato com diversas filosofias que você tenha, sempre será manipulado, mesmo que negue. Só porque tenho traços de personalidade e linha de pensamento parecida com a sua, e por mais que isso parece aos Sociólogos que somos pessoas iguais, isso não é verdade. Somos todos pequenas variações de uma mesma espécie, somos parecidos mas ao mesmo tempo diferentes.
Tenha sempre essa possibilidade de manipulação e influência como uma constante. É algo que sempre vai existir de maneira forte na sociedade, tanto para o bem quanto para o mal. Gostaria que o autor específicasse a seguinte frase "Na sociedade moderna (e em algumas antigas desenvolvidas), a passagem de poder é feita através de uma pseudo-democracia onde teoricamente se valoriza o mérito e competência, e a importância da relação genética é diminuída ou excluída." Desconheço tal assunto e, para conhecimento pessoal e melhor entendimento de ideias explicasse a linha de raciocínio adotada. Penso ser importante para futuras exposição de ideias. O que quer dizer com pseudo-democracia? Em quais sociedades "modernas"? Nas antigas desenvolvida, a referência era Roma e o sistema republicano?
Vou te contextualizar. Quando mencionei “sociedade moderna”, quis dizer “sociedade contemporânea ocidental”. A pseudo-democracia é flagrante. Em nenhum lugar do mundo o “demos”, mesmo o constitucionalizado, governa de fato (vale lembrar que a democracia clássica, a Grega, o demos, na figura dos cidadãos atenienses, exercia de fato um governo democrático). Elegemos pessoas que supostamente deveriam representar o nossos interesses, mas essas acabam constituindo uma aristocracia e governam ao próprio interesse e de seu grupo. Não é um problema somente da corrupção, veja bem, mas sim um problema da espécie, que tem sérias dificuldades em pensar em sociedade.
A importância genética nesse sistema, foi realmente bem reduzida. Você pode até votar no filho do seu Senador preferido, mas ser filho de Senador não garante mais a ninguém uma vaga no senado. Antes de nossa sociedade contemporânea, outras adotaram sistemas que não levavam em conta o berço na passafem de poder. Penso ser tendencioso e contraditório afirmar o autor "quoted" que "todos tem sua individulidade" e na sua conclusão afirmar que "o único objetivo concreto da vida é deixar algo construído para seus sucessores". O atual conhecimento da sociedade, mundo, vida, espaço e universo é tão limitado que me parece ser precoce afirmar isto. Cada pessoa encontrará no seu próprio propósito/individualidade a sua razão para viver, até mesmo por que não escolhemos nosso nascimento tampouco escolhemos nossa morte, a única coisa que nos sobra é a vida em si.
Não acho que fui tendencioso nem contraditório. Existem várias teorias sobre qual seria o objetivo da vida, algumas religiosas outras filosóficas. Nunca posso afirmar que não existe um objetivo maior.
Mas todo legado humano, tanto social, quanto tecnológico, filosófico e religioso, foi muito importante para nossa sociedade se formar. Se cada um pensasse somente em si em toda a história da humanidade, não chegaríamos onde estamos. Por isso, a única coisa concreta que você pode deixar no mundo antes de morrer é o seu legado. O resto é apenas especulação da espécie. Concluíndo, tudo descrito acima faz parte de um problema só, este sendo, o estado. Não penso que o estado tem que acabar, até mesmo por que este se demonstra essêncial quando se trata de saúde, segurança e educação. O que precisa mudar é o espírito de inércia do povo (ao qual não vou explicar, por hora, a razão desta inércia), o estado por dentro, excluíndo dos cargos pessoas má intencionadas. Precisamos seperar interesse econômico de estado e os empresários precisam perder a inflência legislativa. Pouco importa o governante, este estará sempre amarrado às leis (Princípio da legalidade administrativa), o mais importante no país é o poder legislativo. Este que determina o que o estado irá ou não fazer.
Concordo, mas é preciso pensar que toda teoria e idéia precisa levar em consideração a aplicação prática e as variáveis humanas. Muitos sistemas e conceitos são ótimos quando em teoria, mas se mostram outra coisa quando aplicados, isso quando não falham miseravelmente. Como exemplo dá para citar o próprio capitalismo, o comunismo e até a monarquia absolutista. Será que o problema é mesmo o modelo sócio-econômico?
Pensando na aplicabilidade da sua teoria, como julgaríamos “pessoas má intencionadas”. É uma expressão completamente vaga, em se tratando do entendimento humano. O que é uma boa intenção para mim e o grupo que eu represento, pode não ser para você e seu grupo. Veja bem, é isso que quero dizer por individualidade, a possibilidade de um mesmo assunto ter várias interpretações, por pessoas ou grupo de pessoas diferentes. Nós não somos uma espécie imbuída de um consenso coletivo.
Olhe também a parte de “empresários perderem influência”. Quem tem dinheiro quer poder e quem tem poder quer dinheiro. Essa é uma constante na história da humanidade e é uma coisa incutida na espécie. Quando você lida com seres humanos lida com ganância, arrogância e outros defeitos sociais que nunca devem ser ignorados por nenhum sistema teórico. É mágico falar em um sistema onde todos seja iguais perante tudo, ou um sistema em que só os corretos governariam, ou um sistema meritocrático, mas todos eles ignoram que seres humanos não são iguais, que o poder atrai a ganancia e que méritos podem ser avaliados de maneira diferente por cada pessoa. Atualmente enxergo com clareza uma falta de vontade em libertar o povo de uma escravidão oculta. Quando se é contratado por uma empresa, implícitamente o empresário acredita estar comprando sua vida e não o seu trabalho, digo isto por experiência pessoal. O trabalho, pelo tempo que ele retira do cidadão, serve como arma para o ser apenas se preocupar com problemas alheios ao invés dos próprios. Caso tenha dificuldade em crer, basta, na próxima vez em que estiver no escrtiório, imaginar quando foi a última vez que leu um livro que gostava, ou andou pelo parque vazio em um dia de sol. Este "trabalho" também como diria Oscar Wilde, no mesmo texto, separa o indíviduo dele mesmo pois, quando o trabalho termina, o trabalhador já não possui forças para trabalhar nele mesmo, este quer apenas dormir ou esquecer os "problemas" herdados do trabalho. Daí à eterna fixação com futebol e com novelas e outras "culturas" controladoras. Tudo isto, ajuda manter o estado em seu mais perfeito "status quo". Povo enfraquecido, com ideias enfraquecidas, escolherão líderes eleitos pelo marketing devido ao cansaço de ter que procurar projetos de governos interessantes e evolutivos para a sociedade.
Acho que você foi um pouco leviano quanto a crítica à importância do trabalho. É verdade que trabalhamos para sustentar a grande máquina que é a sociedade. Mas o trabalho nos trouxe até aqui é o que move o carro. Não é possível nem idealizar uma sociedade só de pensadores ou uma sociedade em que todos trabalhem pouco e se divirtam e pensem mais em si. Isso pode ser possível um dia, mas não foi nunca a realidade da espécie. Tudo que temos está marcado pelo suor de alguém em algum momento da história.
Você pode criticar o tempo, a discrepância do reconhecimento financeiro entre diversos tipos de trabalho e o potencial zumbificante do trabalho, mas nunca pode diminuir a importância deste e tratá-lo como apenas um fardo no desenvolvimento social.
E fica algumas perguntas. Será que todos querem ser libertados? Será que você realmente está tão fora do "sistema" assim, para realmente enxergá-lo? Será que a auto-contemplação traz prazer para todos? Afinal, segundo Freud, o que move o ser humano é apenas o prazer.