por Convidado 2010-04-02, 7:15 pm
Não sejamos ingênuos, pessoal...
Trocar presentes no Natal, ou mesmo comprar ovos de páscoa não é a mesma coisa que se "apossar" das tradições religiosas. Aliás, mesmo se fosse, devo lembrar-lhes que o próprio cristianismo "escolheu" a data do Natal com base em festividades pagãs?
De qualquer forma, ambos os hábitos não têm quase nada de religioso, mas sim de capitalista. São maneiras de impulsionar o comércio. Não vejo qual o problema disso, tendo em vista que vivemos no capitalismo. Será que de fato é uma deturpação do sentimento religioso? Não acho. Vivemos em uma sociedade "universalista", que frequentemente mistura elementos das mais variadas culturas e procura criar uma uniformidade dentro dessa pluralidade. Por que deveria a religião estar incólume a isso? Ela faz parte do fenômeno cultural, assim como a ciência, a economia, as relações matrimoniais e a linguagem (para quem se interessar, ver estruturalismo de Lévy-Strauss).
Nesses termos, também devo ressaltar que os feriados são provenientes de decretos advindos da Força Estatal. Isso significa que o próprio Estado Brasileiro (que, em teoria, é laico) decretou o dia de hoje como feriado. Oras, mas como pode um Estado que não deveria favorecer nenhuma religião estabelecer um feriado religioso? A resposta é simples: realidade social. O Estado deve levar em conta a realidade social, especialmente quando legisla e interpreta as leis. Oras, mas realidade social do Brasil é clara: aproximadamente 90% dos brasileiros são cristãos. Isso significa que 90% dos brasileiros provavelmente comemoram a Páscoa. Mas, novamente, os feriados não têm caráter de obrigatoriedade, e quem quiser trabalhar (desde que também tenha a autonomia administrativa) poderá trabalhar.
Assim, fica evidente a laicidade dos termos em que se estabeleceu o feriado religioso, bem como os costumes relativos a este. Questionar a justiça disso me parece algo ingênuo e até leviano, pois a reflexão racional acerca dos fatores determinantes para a fixação do costume em nossa sociedade nos leva facilmente a concluir que os rituais da Páscoa, bem como de outros feriados religiosos, não implicam em exclusividade para aqueles que se enquadram na doutrina cristã.