Relembrando a primeira mensagem :
Crise econômica faz portugueses buscarem trabalho em ex-colônias, como Brasil e Angola
A crise em Portugal e as oportunidades que podem ser encontradas em países em desenvolvimento, como Angola e Brasil, têm levado muitos portugueses a buscarem trabalho fora do país.
O Governo Civil de Lisboa (órgão da administração pública que representa o governo Português em Lisboa) tem recebido um número crescente de pedidos para os chamados “segundos passaportes”, que são destinados, sobretudo, aos portugueses que precisam ir para outro país, com urgência, e não conseguem obter o visto junto aos consulados com a rapidez necessária.
Crise econômica afeta aldeias portuguesas
Nos primeiros quatro meses deste ano já foram pedidos 292 “segundos passaportes”, enquanto que em todo o ano de 2010 esse número foi de 563.
Segundo Iara Vaz Rosa, Assessora de Comunicação do Governo Civil de Lisboa, “alguns consulados demoram muito para concederem o visto. Por isso, o cidadão português que precisa ir para outro país a trabalho, pode solicitar o chamado 'segundo passaporte' ao Governo Civil, desde que apresente uma carta da entidade empregadora comprovando a necessidade deste passaporte”.
Iara Rosa afirmou que estes passaportes estão contemplados na lei portuguesa como “situações de caráter excepcional”, e que, “habitualmente, tratam-se de pedidos para viagens de trabalho”.
Apesar de não se ter contabilizado os destinos, tem-se verificado muita frequência nos pedidos desse tipo de passaporte para Angola. Isto “reflete a procura que as pessoas fazem de novas oportunidades para desenvolverem a sua atividade profissional", disse António Galamba, governador civil de Lisboa.
Em busca de novas oportunidade no Brasil
Mas não é só para a Angola que os portugueses têm emigrado em busca de novas oportunidades. José Luiz Silva Nunes, responsável-geral do Setor de Vistos no Consulado-Geral do Brasil em Lisboa, disse ao UOL Notícias que o Brasil vem experimentando uma procura crescente por parte de profissionais altamente qualificados - investidores, estudantes, estagiários ou até mesmo cidadãos aposentados - como alternativa imediata à crise econômica-finaceira no país.
“O setor de vistos do Consulado-Geral do Brasil em Lisboa tem, progressivamente, observado um incremento tanto na busca de informações iniciais para a obtenção de visto temporário ou permanente, como na concessão dos mesmos.” Nunes, no entanto, lembra que nos casos específicos de vistos de trabalho, ou por investimento, “a instrução inicial dos processos é feita sempre no Brasil, numa repartição do Ministério do Trabalho e Emprego”.
Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego do Brasil, só em 2010 foram concedidas 798 autorizações para cidadãos portugueses.
Devido ao interesse crescente dos portugueses no Brasil, durante esta semana, muitos empresários portugueses estiveram no país para participarem em eventos e conhecerem as potencialidades do mercado brasileiro.
A “Interdidática 2011” (maior Feira Internacional de Tecnologia Educacional e Formação da América Latina) levou ao Palácio das Convenções do Anhembi, em São Paulo, representantes de sete grupos de empresas portuguesas (Edubox, Skillmind, Multivector, Nautilus S.A., Decitrel Inovação, Rederia e iPoint). Em Fortaleza, a sexta edição do “ADIT Invest” - Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico no Brasil – contou com a presença de 120 investidores, com destaque para os portugueses.
Segundo o presidente da Adit, Luis Lessa, “o Brasil é já um mercado muito importante para os investidores europeus e, com a presente conjuntura, temos sido abordados por grupos portugueses e espanhóis que não encontram nos seus países oportunidades para prosseguirem os seus negócios porque os mercados estão parados”. Todas as empresas portuguesas (Imostão Promoção Imobiliária, F+P Imobiliária, Bemposta Empreendimentos Turísticos, Imorendimento Sociedade Gestora de Fundos Imobiliários e o Grupo Turiprojecto) que participaram do evento o fizeram pela primeira vez.
Além das empresas, mais da metade dos jovens portugueses (57%) afirmaram, em uma pesquisa realizada pela Comissão Europeia, que estão dispostos a trabalharem fora de Portugal, mais precisamente em outro país europeu. O "Eurobarômetro sobre a juventude em movimento" revelou ainda que 32% dos jovens portugueses admitem trabalharem fora de Portugal por um período limitado de tempo, e 25% estão dispostos a emigrarem por um período mais longo.
"Apalpando o terreno"
Há também quem “arrisque” ir para o Brasil em busca de novas oportunidades. A jornalista portuguesa Maria Inês Carreira foi para o Rio de Janeiro para fazer uma investigação acadêmica para a sua dissertação final de mestrado, mas vai aproveitar a estadia para "ganhar tempo para procurar emprego e ficar por aqui”. Maria, que está no Brasil com o visto de estudante, afirmou que se conseguir emprego, volta a Portugal para defender a dissertação e depois retorna ao Brasil para trabalhar.
O português Dinarte Camacho já vive no Brasil há dois anos. Antes, viveu um ano em Dublin (Irlanda). Quando percebeu que “toda a Europa estava entrando num clima de crise” decidiu junto com a mulher brasileira se mudar para o Brasil.
Dinarte mudou-se sem trabalho e afirma que, apesar de ser formado em administração, ter um MBA e o primeiro ano completo de doutorado em Turismo, teve dificuldade em encontrar emprego. Começou a trabalhar este ano para uma empresa portuguesa no ramo de agências de viagens.
“O meu objetivo é ficar definitivamente no Brasil, mas num mundo cada vez mais globalizado, mudar de país começa a fazer parte das nossas vidas”, disse.
Rui Lourenço é outro português que já vive no Brasil. Está no país desde fevereiro de 2010 e se mudou “sem trabalho”. Entretanto, em dezembro do ano passado surgiu uma oportunidade de trabalhar na área de tecnologia da informação e controle de gestão de uma empresa que importa e distribui os vinhos e azeites em Portugal. Lourenço vive em São Paulo e diz que “há cada vez mais pessoas que estão considerando a hipótese de virem para cá".
"Vários amigos e conhecidos já me pediram informações. Um deles chegou ontem de manhã para uma semana de reuniões e, como se diz em Portugal, ‘apalpar o terreno’", conta Lourenço. "Já tenho, e não sou o único, até um e-mail formatado com as informações que as pessoas normalmente querem saber sobre o Brasil.”