Passeata dos sem-namoro invade o Centro do Rio nesta sexta-feira
Ana Paula Verly , Jornal do Brasil
RIO DE JANEIRO - A inevitável pecha de encalhado ou “pra titia” não envergonha a legião de solteirões assumidos que marchará, a partir do meio-dia desta sexta-feira, para afirmar a condição de celibatário em plena Avenida Rio Branco, no Centro. O Movimento dos Sem Namorado, inspirado no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), pretende reunir homens e mulheres em busca da cara-metade.
Idealizado pelo site de relacionamentos batizado de Par Perfeito – que há nove anos ajuda gente de 18 países a chegar ao altar – o ato é o primeiro do gênero organizado no mundo.
– O objetivo é chamar atenção para o fato de haver 57,9 milhões de solteiros no Brasil, segundo o IBGE. Entre eles, muita gente interessante, à procura de namorado – alerta Claudio Gandelman, presidente da Meetic, grupo francês que comprou o Par Perfeito em 2006.
A passeata sai da Candelária e encerra na Carioca ou na Cinelândia. O destino depende da adesão, assim como a ocupação da calçada ou de uma faixa da Rio Branco. A prefeitura, confirmou Cláudio, foi avisada para organizar o trânsito.
O secretário especial de Ordem Pública, Rodrigo Bethlem, disse, na manhã desta quinta-feira, que não. Ao saber do movimento, o xerife até deu risada, e duvidou da eficácia do movimento em entrevista a uma rádio.
Palavras de ordem
Alheios ao preconceito e vestidos com camisetas vermelhas idênticas às do MST, manifestantes cadastrados ou não no site vão entoar palavras de ordem e empunhar faixas com os dizeres “Namoro Já” e “Cansei de ser sozinho” para expressar a vontade incontida de laçar alguém. Uma banda no estilo charanga vai animar o trajeto com um repertório surpresa.
Com 30 anos recém-completados e pressionada pela família a arrumar um marido, a projetista Sylvia Tavares está bastante confiante. Tem motivos. “Acostumada” a namorar e solteira desde março, quando terminou um relacionamento de seis anos, cadastrou-se no Par Perfeito ao saber da passeata pelas amigas. Em 15 minutos de acesso, recebeu mensagens de 15 interessados. Aprovou dois, mas um, por morar no Rio Grande do Sul (“muito longe”), acabou descartado. Para o outro, mandou um e-mail informado o interesse em conhecê-lo.
– Ele escreveu no perfil dele “Não quero Barbie. Quero uma mulher normal”, e eu escrevi no meu “Não quero príncipe. Quero um homem de verdade” – empolga-se Sylvia, ex-crítica da busca virtual por namorados. – Não é que estejamos encalhadas. A internet oferece mais chances de conhecermos gente interessante – defende agora.
O que leva um solteiro a sentar-se diante do computador para encontrar o amor de sua vida é, basicamente, a falta de tempo e de oferta de pessoas “interessantes” nos ambientes por ele frequentado.
– Trabalho o dia todo. À noite, é festa com amigos, sempre a mesma galera. Conhecer alguém leva tempo. Na noite, o pessoal bebe, pega o telefone e não liga. Pela internet é mais fácil – dá a dica.
Adepta do mantra “deixo acontecer. Se tiver de ser, vai ser”, a estudante de fonoaudióloga Gisele Mann, 24 anos, sozinha desde novembro, não está no site, mas se juntará aos companheiros de luta.
– Todo mundo quer encontrar a pessoa certa. Ninguém quer ficar sozinho para o resto da vida. Pelo amor de Deus! – deixa escapar.
Fotos:
teve em sp e no rj e taus
abrasos